Taxa fixa ou variável: como escolher?

Comprar casa é uma das decisões financeiras mais importantes da vida. E uma das escolhas que mais impacto tem no orçamento familiar é a modalidade de taxa de juro do crédito habitação. Afinal, taxa fixa ou variável – o que é melhor para si?
Esta questão tornou-se ainda mais relevante em 2025, ano marcado pela estabilização da Euribor em torno dos 2%, após o ciclo de subidas iniciado em 2022, e por um aumento significativo na procura de crédito habitação em Portugal. Com as previsões de estabilidade para 2026, compreender as diferenças entre taxa fixa, variável e mista é essencial para tomar uma decisão responsável e informada.
Neste artigo, explicamos as diferenças entre as modalidades de taxa de juro, apresentamos simulações práticas e ajudamo-lo a perceber qual a opção mais vantajosa para o seu perfil financeiro no contexto do mercado português.
O que é uma taxa fixa?
A taxa fixa é a modalidade em que o valor da taxa de juro se mantém constante durante todo o período acordado. Ou seja, a prestação mensal não se altera, independentemente da evolução da Euribor ou das taxas de referência de mercado.
Como funciona a taxa fixa
Nos contratos de crédito habitação com taxa fixa, o banco define antecipadamente a taxa de juro para um período específico – por exemplo, 5, 10, 15 ou 30 anos.
Durante esse tempo, o valor da prestação mensal é estável, o que permite um maior controlo orçamental.
A determinação desta taxa tem em conta fatores como:
- Custo de financiamento do banco (geralmente com base nas taxas swap);
- Perfil de risco do cliente;
- Rácio entre o montante do empréstimo e o valor do imóvel (LTV);
- Prazos e políticas de risco da instituição.
Vantagens da taxa fixa
- Previsibilidade total: sabe exatamente quanto pagará todos os meses.
- Proteção contra subidas da Euribor: não sofre impacto de flutuações do mercado.
- Planeamento financeiro seguro: ideal para famílias com taxa de esforço elevada.
- Estabilidade emocional e orçamental: evita surpresas desagradáveis.
Desvantagens da taxa fixa
- Não beneficia de descidas da Euribor.
- Taxa inicial mais elevada do que nas modalidades variáveis.
- Menor flexibilidade contratual: alterações ou amortizações antecipadas podem implicar comissões (até 2%, conforme Aviso n.º 3/2022 do Banco de Portugal).
- Custo de oportunidade: paga um “prémio” pela segurança, mesmo que as taxas se mantenham estáveis.
O que é uma taxa variável?
A taxa variável é a modalidade mais comum em Portugal. O valor da prestação depende da soma de duas componentes.
- Indexante: normalmente a Euribor a 3, 6 ou 12 meses (ver taxas atuais).
- Spread: margem definida pelo banco, que reflete o risco do cliente e mantém-se fixa durante o contrato.
Como funciona a taxa variável
A taxa de juro é atualizada periodicamente (a cada 3, 6 ou 12 meses), consoante o indexante escolhido.
Por exemplo:
- Euribor (6m) a 2,0% + Spread 0,9% = 2,9% taxa total;
- Se a Euribor subir para 3%, a nova taxa será 3,9%, aumentando a prestação.
Vantagens da taxa variável
- Beneficia das descidas da Euribor.
- Taxas iniciais mais baixas em comparação com a taxa fixa.
- Flexibilidade contratual: é mais fácil renegociar condições.
- Isenção de comissão por amortização antecipada até 31 de dezembro de 2025, conforme a Lei n.º 1/2025.
- Ideal para prazos médios (até 20 anos) e para quem tem folga financeira.
Desvantagens da taxa variável
- Exposição ao risco de subida das taxas.
- Maior incerteza financeira, dificultando o planeamento a longo prazo.
- Variações nas prestações podem gerar instabilidade emocional.
Taxa mista: o equilíbrio entre as duas
A taxa mista combina um período inicial de taxa fixa (geralmente 2 a 15 anos) com uma fase posterior de taxa variável.
Durante o período fixo, o valor da prestação é estável; após esse prazo, a taxa passa a acompanhar a Euribor.
De acordo com o Banco de Portugal, cerca de 73% dos novos contratos em 2025 foram celebrados com esta modalidade.
Vantagens da taxa mista
- Estabilidade inicial: proteção durante os primeiros anos, quando há mais despesas.
- Flexibilidade futura: beneficia de possíveis descidas da Euribor após o período fixo.
- Custo equilibrado: taxa inicial geralmente inferior à de um contrato totalmente fixo.
Desvantagens da taxa mista
- Maior complexidade contratual.
- Transição para taxa variável pode implicar aumento de prestação.
Como determinar o valor da taxa fixa
Os bancos baseiam-se nas taxas swap de mercado interbancário, que refletem o custo de financiamento para o prazo correspondente.
Por exemplo, uma taxa swap a 5 anos de 2,2% significa que o banco aplicará ao cliente um valor próximo, acrescido do seu spread e de eventuais custos operacionais.
As regras de transparência e informação constam do Aviso do Banco de Portugal n.º 3/2022 e do Decreto-Lei n.º 74-A/2017, que regula a publicidade e comercialização de contratos de crédito à habitação.
Comparação de taxas: qual é mais vantajosa?
| Tipo de taxa | Vantagens principais | Riscos / desvantagens | Perfil ideal |
| Fixa | Previsibilidade total; proteção contra subidas | Taxa inicial mais alta; sem benefício em descidas | Famílias com orçamento justo |
| Variável | Beneficia de descidas; taxas iniciais baixas | Exposição ao risco de subida; instabilidade | Clientes com folga financeira |
| Mista | Segurança inicial e flexibilidade futura | Pode tornar-se variável em cenário desfavorável | Jovens compradores e famílias em início de vida |
Simulações práticas (valores médios 2025)
Crédito habitação: 150.000 € | Prazo: 30 anos | Spread: 0,9%
| Modalidade | Taxa média | Prestação mensal (€) | Custo total (€) |
| Taxa variável (Euribor 6m 2%) | 2,9% | 625 € | 225.000 € |
| Taxa fixa 30 anos | 2,69% | 604 € | 217.440 € |
| Taxa mista (fixa 5 anos, depois variável) | 2,59% | 597 € | Depende da evolução da Euribor |
Como escolher a melhor opção para si
Antes de tomar uma decisão, considere:
- Taxa de esforço atual e prevista (simulador Banco de Portugal);
- Horizonte temporal do crédito (curto, médio ou longo prazo);
- Expectativas em relação à Euribor e à inflação;
- Estabilidade profissional e rendimentos futuros;
- Fundo de emergência disponível.
Recomenda-se:
- Taxa fixa – se valoriza estabilidade e tem taxa de esforço elevada.
- Taxa variável – se tem margem financeira e acredita na descida das taxas.
- Taxa mista – se quer segurança nos primeiros anos e flexibilidade no futuro.
Contexto 2026: estabilidade e responsabilidade
As previsões do Banco Central Europeu (ecb.europa.eu) apontam para taxas diretoras estáveis em torno dos 2% a 2,25% ao longo de 2026.
O Banco de Portugal reforça a importância do crédito responsável e da avaliação rigorosa da taxa de esforço, conforme as recomendações macroprudenciais em vigor.
A decisão entre taxa fixa ou variável deve basear-se em planeamento financeiro, análise de risco e sustentabilidade a longo prazo, mais do que na tentativa de prever o mercado.
Informação e transparência no mercado imobiliário
O acesso a informação clara e atualizada é essencial para tomar decisões financeiras responsáveis, especialmente em temas como o crédito habitação. Plataformas especializadas como o IMOVIRTUAL contribuem para um mercado imobiliário mais transparente e acessível, disponibilizando dados, análises e conteúdos que ajudam os consumidores a compreender melhor as dinâmicas da habitação em Portugal.





